Bike Tour from Switzerland to Portugal

(please scroll down for english version)

Da Suíça a Portugal de bicicleta

Esta microaventura é em nome de um caro amigo que se propôs a realizar uma ultramaratona de bicicleta, desde a sua casa atual na Suíça até à sua terra natal em Portugal. Quanto a mim, tive o prazer de fornecer suporte logístico a ele e ao Pedro (que decidiu juntar-se na estirada final), no penúltimo dia da aventura, quando atravessou a fronteira entre Espanha e Portugal.

O GRANDE DESAFIO

Somos tão grandes quanto os feitos que realizamos.

A viagem total de bicicleta consistiu em 2.232 km, divididos em 9 dias e 8 noites, partindo de Bôle, Neuchatel, Suíça; e chegando à Moita, Setúbal, Portugal. Durante esses dias, enfrentou inúmeros desafios físicos e psicológicos, e ultrapassou os seus limites de uma forma que não pensava ser possível. Mas no final (alerta spoiler) tudo valeu a pena!

A primeira questão que nos podemos perguntar é porquê? Por que razão alguém acorda um dia e decide colocar-se em tamanho desafio, claramente fora da zona de conforto, até para o mais treinado dos atletas. Quando perguntei isso ao João, ele explicou que a ideia já lhe pairava na imaginação há algum tempo. Sabia que havia outras pessoas a percorrerem de bicicleta o caminho entre a Suíça e Portugal, mas queria fazê-lo de forma um pouco diferente. Quis elevar a fasquia, e tornar o que já era um grande desafio em algo ainda maior, por isso acrescentou algumas condições:

  • Deu-se apenas 9 dias para completar o percurso
  • Decidiu fazê-lo sozinho
  • Viajou em modo autossuficiente, ou seja, sem qualquer apoio técnico ou logístico, exceto as chamadas diárias para mim e para o Pedro, e o suporte logístico que lhe dei a carregar a bagagem no penúltimo dia quando nos encontrámos em Badajoz.

MaP_Bike Tour_11

MENTE FORTE

Podemos conseguir grandes coisas, se orientarmos a nossa mente nesse sentido.

De entre todas as coisas, qual é o maior desafio que se enfrenta numa jornada destas? Sem dúvida que estar em boa forma física é a primeira chave do sucesso, mas assumindo que essa base está garantida (como era o caso), a principal dificuldade estava no controlo da mente. A pressão psicológica de viajar sozinho distorce a noção de tempo e distância, fazendo-os parecer mais longos e cansativos. Para além disso, o facto de ser autossuficiente leva a um aumento efetivo do dispêndio energético, uma vez que cada objeto necessário para a viagem tem que ser transportado na bicicleta, o que tem impacto a nível do peso. Isso foi particularmente doloroso nos dias ventosos; tal como o João confirmou: “O vento foi o meu maior inimigo nesta viagem. Nem toda a energia parecia ser suficiente para pedalar contra o vento.

CORPO FORTE

Claro que temos que treinar, mas o treino não vai fazer com que seja fácil, só vai fazer com que seja possível!

Quando se pedala durante horas e dias a fio, é importante manter um ritmo cardíaco baixo, para maximizar a resistência ao longo do caminho. Na verdade, ao fim de 3 dias a pedalar os músculos já estão quentes e dormentes, pelo que deixa de se sentir dores musculares significativas. Assim, apenas é necessário manter uma respiração constante e uma boa hidratação e nutrição, para que o corpo tenha a energia de que precisa para seguir caminho.

Essa é a parte bonita da conversa, mas depois vem o vento e sopra o equilíbrio para longe; depois vem o calor e queima toda a energia que resta. Estes fatores externos afetam a performance, por muito que se treine; por isso, o mais difícil é lidar com eles e continuar a pedalar apesar deles. Aqui ficam algumas dicas:

  • Para lidar com o vento: cada grama de peso conta, por isso há que viajar o mais leve possível;
  • Para lidar com o calor: fazer paragens frequentes para hidratar e refrescar.

4

LOGÍSTICA

O sucesso começa com um bom plano.

Dicas sobre a bagagem: se não temos a certeza se uma coisa vai fazer falta, então é porque não vai. Se pensamos que uma coisa vai fazer falta, então pensemos outra vez.

Toda a bagagem foi carregada numa Topeak Dynapack de 10 litros, uma mala em forma de ovo que ia segura à bicicleta. A carga foi reduzida ao mínimo indispensável, e consistia especificamente em:

  • 1 par de calças + 2 t-shirts + 1 par de ténis (para ir jantar à noite)
  • 2 mudas de roupa interior
  • 1 frasco de tamanho de viagem de champô + gel de duche
  • Escova e pasta de dentes
  • Ferramentas para a bicicleta: bomba de tamanho mini, kit de reparação de pneus, ferramenta multo-uso, canivete-suíço.
  • Tecnologia: telemóvel e GPS (Garmin 1000) + carregadores
  • Roupas de ciclismo: apenas a que levava vestida, que era lavada todas as noites e secava durante a noite

5

O alojamento ia marcado com antecedência, mas no final de contas não teria sido necessário. No dia #6, depois de um desentendimento com o GPS sobre as condições de acessibilidade de uma estrada, foi necessário alterar a rota. A partir daí, todas as reservas para as noites seguintes ficaram perdidas. A princípio ele ficou apreensivo, pensando que poderia ser difícil encontrar alojamento nas localidades mais pequenas e remotas, mas tal não aconteceu. No final de contas, teria sido preferível viajar sem qualquer reserva de alojamento, pois assim teria mais flexibilidade, e era bastante fácil encontrar sítios bons e económicos para ficar com a bicicleta.

Refeições: uma vez que a bicicleta tinha sempre que ficar por perto, os almoços consistiam basicamente em sandes simples de queijo e fiambre, preparadas com ingredientes comprados nas estações de serviço. Depois, para um reforço adicional, complementava com um bolo ou gelado como sobremesa. E finalmente, para refrescar e dar o toque de energia adicional, foram consumidas várias e várias latas de coca cola.

Paragens: a frequência das paragens estava intimamente ligada ao abastecimento de água. Ele levava consigo 1,5 litros, e sempre que esta reserva se gastava era necessário parar para a repor e para se refrescar. Durante as horas mais quentes isso podia significar parar a cada 15km, enquanto durante as horas mais frescas podia seguir durante 50 ou 60 km.

7

O ITINERÁRIO

A chegada ao destino tem mais valor quando se aprecia a viagem.

Quando o João escolheu o itinerário teve em conta 4 pontos essenciais:

  • Começar em Bôle;
  • Terminar na Moita;
  • Evitar os Pirenéus, pois tornariam a viagem demasiado difícil;
  • Entrar em Portugal via Elvas, porque a partir daí era uma rota que já conhecia, o que tornaria a estirada final mais fácil.

Como ferramenta de orientação utilizou o Google Maps, e para gravar o percurso utilizou o Garmin 1000. Para este efeito o Google Maps mostrou algumas limitações, uma vez que as condições das estradas sugeridas nem sempre eram adequadas para uma bicicleta de estrada. Por vezes ia dar a estradas de terra batida, que seriam cicláveis para uma bicicleta de BTT, mas não para a de estrada. Quando isso acontecia, tinha que parar, pedir indicações e procurar uma rota alternativa.

O que valeu é que as pessoas eram prestáveis. Encontrei pessoas muito simpáticas pelo caminho!”

Em todo o caso, para a próxima vale a pena trazer um mapa de papel. Apesar das maravilhas da tecnologia que tem o GPS, os mapas de papel ainda são uma ótima alternativa de confiança para planear uma rota. Assim poderia utilizar o mapa para estudar rotas possíveis na noite anterior, e no próprio dia usar o Google Maps como ferramenta de orientação dinâmica.

MaP_Bike Tour_8

ESTATÍSTICAS INTERESSANTES

  • 9 dias a pedalar
  • Distância total: 2.232 km
  • 13.000m de elevação
  • Tempo médio de viagem por dia: 13h a 14h
  • Tempo médio a pedalar por dia: 8h a 10h
  • Distância média por dia: 260km
  • Média de calorias gastas por dia: 4500kcal
  • Bicicleta: Argon 18 Galium Pro

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As experiências mais duras da vida, são muitas vezes as mais recompensadoras.

O sentimento de realização ao fim de cada etapa dava-me força e motivação para continuar no dia seguinte. E a emoção que senti no final da viagem é difícil de descrever em palavras…

O João diz que esta é uma experiência para repetir. Talvez repetir a mesma rota, talvez uma rota diferente, mas para a próxima não vai querer ir sozinho. O Pedro e eu já nos voluntariámos para a próxima volta, e fica aqui o convite aberto a quem se queira juntar, ou dar sugestões para o próximo itinerário 😉

MaP_Bike Tour_1

_____________

Bike tour from Switzerland to Portugal

I write this microadventure on behalf of a dear friend who took upon himself to complete an ultramarathon, riding a bicycle, from his current home in Switzerland to his hometown in Portugal. As for myself, I had the pleasure of providing technical support to him and Pedro (who joined for the last stretch), during the last day of adventure, when he was crossing the border from Spain to Portugal.

THE BIG CHALLENGE

You are as big as the things you accomplish.

The overall voyage consisted of a 2.232 km bicycle ride, split in 9 days and 8 nights, departing from Bôle, Neuchatel, Switzerland; and arriving to Moita, Setúbal, Portugal. During these days he faced all sorts of physical and psychological challenges, and surpassed his limits to an extend that he didn’t thought possible. But in the end (spoiler alert) it was all well worth!

The first question one may ask is why? Why does someone wake up one day and decides to put himself on such a trial, clearly outside the comfort zone even for the most trained of athletes. When I asked João about that, he explained that it was a challenge that had been hanging in his mind for a long time. He knew there were some people riding from Switzerland to Portugal, but he wanted to do it a little different. He wanted to raise the bar and turn what was already a big challenge into an even bigger one, so he added some conditions:

  • He gave himself only 9 days to complete the trip
  • He decided to do it as a solo trip
  • He was in self-sufficient mode, meaning that he had no backup support along the way, except for the daily phone calls with me and Pedro; and the logistic support to carry his luggage, on the day before the last, when we met him in Badajoz.

2

STRONG MIND

You can achieve great things if you put your mind to it.

Out of everything, what is the biggest challenge one faces in such a journey? No doubt the physical condition is the first key to success, but providing that basis is secured (which was the case), the main difficulty lies within our mind. The psychological distress of a solo ride stretches the perception of time and distance, making it seem lengthier and more exhausting. Furthermore, the fact of being self-sufficient leads to an actual increase in the energy spent, because every single item one needs must be carried in the bike, meaning more weight. This effect was particularly pressing in windy days. As João confirmed: “The wind was my worst enemy in this trip. All stamina was never too much when I needed to ride against the wind.

A STRONG BODY

Of course you need to train, but training won’t make it easy, it will only make it possible.

The key tip when one is riding for so many hours is to keep the heart rate at a low-intensity, to maximize the endurance throughout the way. As a matter of fact, after 3 days of riding the muscles are warm and numb enough not to cause any significant pain anymore. So all you need to do is to keep a steady breath, and to maintain a good hydration and nutrition, in order to give your body the fuel it needs to keep going.

That’s the nice talk, but then comes along the wind and blows your balance away. Then comes along the heat and burns your energy away. These external factors affect your performance no matter how much training you have, so the difficult part is to deal with them, and to continue riding in spite of them. Here are some Pro-tips:

  • To deal with the wind: every gram counts so travel as light as possible.
  • To deal with the heat: stop often to refresh and avoid dehydration.

This slideshow requires JavaScript.

LOGISTICS

Success starts with a good plan.

Luggage Pro-tip: If you are unsure if you should take something, then don’t. If you think you will probably need something, then think again.

Everything was carried in a 10 liter Topeak Dynapack, a small egg-shaped bag attached to the bike. The luggage was reduced to the utmost minimum, consisting precisely in:

  • 1 pair of pants + 2 t-shirts + 1 pair of sneakers (to go out for dinner in the evenings)
  • 2 pieces of underwear
  • 1 piece of travel size shampoo + shower cream
  • Tooth brush and tooth paste
  • Bike tools: small size pump, tire repair kit, multi-purpose tool, Swiss army knife
  • Technology: smartphone and GPS (Garmin 1000) + chargers
  • Cycling clothes: only the piece he was wearing. It was washed every evening and dried overnight.

Accommodation was booked in advance, but in the end he realized that it was unnecessary. On day #6, after a misunderstanding with the GPS regarding the navigable condition of the road, he was forced to change his route, and missed all the bookings from that night on. At first he was concerned he’d have troubles finding accommodation in smaller villages, but it was no issue at all. In the end he would rather have traveled with no bookings, for it would have given him more of flexibility, and was super easy to find nice and affordable places to stay with the bike.

Meals: since the bike could not be left out of sight, the midday meals consisted of plain ham and cheese sandwiches, made out of ingredients bought in gas stations. For an extra boost of energy, he added a cake or ice-cream dessert to the menu. And on top, to combine refreshment with even more energy, many cans of coke were consumed along the way.

Stopovers: the frequency of stopovers was intimately linked with the water supply. He was carrying with him 1,5 liters of water, and whenever that supply ran out, he stopped to refill it and refresh himself. During the hottest parts of the day this could mean stopping every 15km, whereas during the coolest hours he could go on for 50 or 60 km.

THE ITINERARY

The destiny is worth more when you enjoy the ride.

When he chose the itinerary he had basically 4 things in mind:

  • The starting point in Bôle;
  • The finishing point in Moita;
  • Avoiding the Pyrenees, as it would be too hard a route;
  • Enter Portugal in Elvas, because it was a route he already knew, and it would be easier to have a familiar road in the last stretch.

As navigation tool he used Google Maps, and Garmin for recording the trip. For this purpose Google Maps showed some limitations, as the road conditions of the suggested itinerary were not always suitable for a road bike. Sometimes he ended up in unsealed roads, that would be navigable for a mountain bike, but not for his road bike. When that happened, he had to stop, ask for directions and find an alternative route.

The good thing was that people were helpful, I met really nice people along the way!”.

Anyway, next time to bring a paper map would be a good idea. In spite of the wonders of technology, paper maps are still a great and reliable option for route planning. He could then use the paper map to study the possible routes the night before, and then use Google Maps as on time navigation tool during the day.

This slideshow requires JavaScript.

SOME COOL STATISTICS

  • 9 days of ride
  • Total distance: 2.232 km
  • 13.000m of elevation
  • Average travel time per day: 13h to 14h
  • Average riding time per day: 8h to 10h
  • Average distance per day: 260km
  • Average Calories spent per day: 4500kcal
  • Bicycle: Argon 18 Galium Pro

FINAL THOUGHTS

The hardest experiences in life are often the most rewarding.

The feeling of accomplishment in the end of each day gave me strength and motivation to go on the next day. And the emotion I felt in the end of the trip can hardly be described.

João says this is an experience to repeat. Maybe the same route, maybe a different one, but next time he doesn’t want to go alone. Pedro and I already sign up for the next round, and here is the open invitation if you want to join us or give suggestions for the next itinerary 😉

MaP_Bike Tour_3

5 thoughts on “Bike Tour from Switzerland to Portugal

  1. Esta aventura foi mesmo em grande, até para quem “só” teve a MicroAventura de esperar o viajante às portas de Portugal . Ficámos com o gosto desta MacroAventura, pois ao falarmos com ele todos os dias é como se nós próprios pedalassemos. Venham mais destas! E artigos também, porque ao ler até dá vontade…

    Liked by 2 people

  2. Uma grande microadventura 🙂
    260km per dia são muito para mi mas é um prazer ler sobre este microadventura.
    A próxima rota pode ser a Transcontinental?

    I hope this is understandable Portuguese. I’m still very much learning. And your blog is the best for that as it combines two love of mine: microadventures and Portuguese ^^

    Liked by 1 person

    1. Thank you so much for your kind words! It’s a pleasure to have you reading my blog 🙂
      The Transcontinental route would surely be a really cool challenge! It would push the limits to a whole new level, but who knows…
      E o teu português é perfeitamente compreensível. Estás bem encaminhada no objetivo de aprender a língua 😉

      Liked by 1 person

Leave a comment